
Tenho visto muita gente reclamar da militância gay e da forma discreta - ou totalmente ausente- com que vem reagindo aos ataques conservadores que vem acontecendo recentemente contra os nossos direitos . A reação - se é que está havendo alguma - está sendo vergonhosa, é verdade. Mas acho que as críticas à militância precisam ser mais generosas.
Participei de ONGs gays por um tempo e o que pude perceber é que a classe média não se envolve. Ficamos em nossos consultórios, escritórios, gabinetes - a imensa maioria levando uma vida enrustida - fingindo que nada temos a ver com o que está acontecendo.
Quem milita mesmo, mostra a cara, enfrenta parlamentares homofóbicos, corre atrás de formas de pagar o aluguel da ONG, são gays pobres que muitas vezes só tiveram acesso ao ensino público até o nível médio ou nem isso. Pessoas sem nenhum acesso à informações mais sofisticadas.
Fora que nunca há uma mobilização verdadeira da comunidade gay, e isso inclui a classe média e os ricos. Quando o PLC 122/06, por exemplo, vai a votação os pastores evangélicos levam figurantes para se manifestar contra. Nós, que precisamos ir por conta própria, não aparecemos por lá. Qual a imagem que isso passa aos parlamentares que iriam votar um projeto polêmico e depois ter que responder aos eleitores sobre o voto dado?
O nível da militância que temos é reflexo da ausência dos gays ricos, mestres, doutores e profissionais liberais que adoram ficar na internet, no conforto do ar condicionado, criticando a ignorância e os erros dessa militância despreparada, que espelha tão bem nosso país.
É chato, é frustrante, mas nós temos que explicar às pessoas que união civil não é o mesmo que casamento, que casamento não é só religioso, que presidente também pode legislar e que leis que tenham apoio da bancada governista são as que têm reais chances de aprovação. E temos que explicar isso todo dia, muitas vezes. E temos que repetir. E repetir com outras palavras, com termos mais simples, com metáforas. Temos que repetir em várias mídias, e sem cansar. Isso se quisermos que algo mude no Brasil.
Nos Estados Unidos, onde a militância é invejável, os gays milionários fazem doações e deixam heranças para o movimento, financiam prêmios, montam abrigos para gays pobres e sem estudo, dão bolsas de estudo. Os altos cargos das ONGs contratam no mercado profissionais com currículos irretocáveis.
Nossa militância é péssima, pobre, ignorante, covarde, dependente de doações do governo. Mas isso, infelizmente, é tão culpa nossa quanto deles.