terça-feira, 9 de outubro de 2007

Brasil, meu Brasil brasileiro

A lógica no Brasil hoje é a seguinte: se você tem dinheiro, você é um filho da puta e merece tudo de ruim, inclusive perder coisas que você conseguiu com o seu trabalho. Não interessa se você se matou de estudar, passou noites em claro, começou a namorar com 30 anos porque estava estudando, se sua família gastou o que não tinha para dar uma educação a você. Nada disso faz diferença, o fato é que você é elite e, por isso, um filho da puta.
Agora, se você é pobre, você é um coitado, todos os seus antepassados são uns coitados. Não importa se ninguém estudou, se as mulheres todas engravidaram aos 13 anos e se os homens abandonaram os filhos e foram fazer outros filhos que depois abandoram também. Se a única coisa que as pessoas fazem é ficar sentadas nas calçadas olhando o tempo passar. Nada disso vale, a única coisa relevante é que você é pobre e por isso pode tudo, pode sonegar impostos, invadir terrenos, fazer barulho, ganhar vagas na universidade sem esforço, pode tudo, inclusive assalatar. Por que nem assaltante você é, você é "correria". A culpa do assalto, na verdade, é do filha da puta de elite.
Sendo esse o raciocínio dominante no país, fica difícil fazer um contrato social que funcione.
Luiz Antoni Ryff comenta artigo publicado pelo rapper Ferréz, paulista, respondendo a um texto do Luciano Huck, que achou ruim ser assaltado. Veja aí um trecho do texto do rapper,morador do Capão Redondo, bairro violento na periferia de São Paulo. O artigo do rapper foi publicado na Folha.
“Se o assalto não desse certo, talvez cadeira de rodas, prisão ou caixão, não teria como recorrer ao seguro nem teria segunda chance. O correria decidiu agir. Passou, parou, intimou, levou. No final das contas, todos saíram ganhando, o assaltado ficou com o que tinha de mais valioso, que é sua vida, e o correria ficou com o relógio. Não vejo motivo pra reclamação, afinal, num mundo indefensável, até que o rolo foi justo pra ambas as partes.”

1 pitacos:

Cláudia Gurgel disse...

Sil, podia ter sido escrito por nós duas...