No Dia Internacional da Mulher (8 de março) eu estava de férias e sem acesso à Internet. Mas decidi falar sobre o assunto agora. As mulheres hoje, especialmente as mais jovens, tendem a ver o feminismo como uma coisa meio ridícula. Vejo aqui no trabalho o pouco caso com que o assunto é tratado. "Um bando de ridículas que ficam jogando florezinhas umas nas outras" é o comentário básico. Depois que comecei a ler sobre feminismo ganhei perspectiva da importância desse assunto. Antes da luta pelos direitos das mulheres ganhar espaço político, só havia três opções para as infelizes que nascessem sem um pênis: serem esposas reprodutoras, freiras ou putas. Mulheres não podiam trabalhar, estudar, votar, ter propriedades ou conta no banco. E isso é muito recente, não é nada de idade média. É coisa do século passado, anos 1900, quando nós nascemos.
Adoro o blog da Carla Rodrigues, no site No Mìnimo. Por ocasião do Dia Internacional da Mulher ela elencou essa listinha de obstáculos e dificuldades enfrentadas pelos seres humanos que nascem com aparelho sexual feminino. Seguem:
* Os homens são indivíduos, pessoas, trazem sobrenomes que são transmitidos. As mulheres não têm sobrenome, têm apenas um nome. Como pesquisadora, ela tem dificuldades de encontrar histórias de mulheres porque são guardados apenas os papéis dos homens.
* Na filosofia de Platão, as mulheres são uma ameaça potencial para a vida harmoniosa da coletividade. As mulheres não são apenas diferentes: modelagem inacabada, homem incompleto, falta-lhes alguma coisa, são defeituosas. O homem é criador, a mulher não passa de um vaso do qual se pode esperar apenas que seja um bom receptáculo.
* Num arquivo francês exclusivamente dedicado a autobiografias, quase não há registros femininos. “Minha vida não é nada”, diz a maioria das mulheres.
* Hoje, a longevidade das mulheres é maior do que a dos homens. Mas não foi sempre assim. Na Idade Média e na Época Moderna, a maternidade era devastadora e, em caso de dificuldades, preferia-se salvar a criança e deixar a mãe morrer.
* No nascimento, a menina é menos desejada. Anunciar: “É um menino” é mais glorioso do que dizer: “É uma menina”, em razão do valor diferente atribuído aos sexos.
* Primeiro mandamento das mulheres: a beleza. “Seja bela e cale-se”, é o que lhe impõe, desde a noite dos tempos talvez. Em todo o caso, o Renascimento, particularmente, insistiu sobre a partilha sexual entre a beleza feminina e a força masculina.
* De Aristóteles a Freud, o sexo feminino é visto como uma carência, um defeito, uma fraqueza da natureza. Para Aristóteles, a mulher é um homem mal-acabado, um ser incompleto, uma forma malcozida.
* A mulher é um ser em concavidade, esburacado, marcado para a possessão, para a passividade. Por sua anotomia. Mas também por sua biologia. Seus humores – a água, o sangue (o sangue impuro), o leite – não têm o mesmo poder criador que o esperma, eles são apenas nutrizes.
* Fisiologistas do final do século 19, que pesquisam as localizações cerebrais, afirmam que as mulheres têm um cérebro menor, mais leve, menos denso. Recusam-se às mulheres as qualidades de abstração, de invenção, de síntese.
* As mulheres sempre trabalharam. Seu trabalho era da ordem do doméstico, da reprodução, não valorizado, não remunerado. As sociedades jamais poderiam ter vivido, ter-se reproduzido e desenvolvido sem o trabalho doméstico das mulheres, que é invisível.
* Foi a industrialização que colocou a questão do trabalho para as mulheres. Os operários temiam a concorrência. Um homem digno desse nome deve poder sustentar sua família e precisa de uma mulher que cuide da casa.
* Atualmente, cerca de 75% das mulheres que trabalham o fazem no setor terciário: vendedoras, secretárias, professoras primárias, enfermeiras.
* O direito ao saber, não somente à educação, mas à instrução, é certamente a mais antiga, a mais contante, a mais largamente compartilhada das reivindicações. Porque ele comanda tudo: a emancipação, a promoção, o trabalho, a criação, o prazer.
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2 pitacos:
Definitivamente, o futuro é mulher, ainda que a Hillary tenha titubeado ao ser perguntada sobre o pronunciamento ultra-homofóbico de um general dos EUA e a Segolène esteja com dificuldades de convencer as francesas - e também os franceses - a votar nela. Mas eu não tenho dúvida de que é apenas uma questão de tempo. No dia que descobrirem como a fecundação pode ocorrer apenas com dois óvulos, estaremos preparados para sermos todos trans-lesbianas, como duas que se casaram recentemente aqui na Espanha, não lembro agora exatamente em qual cidade...
eu sempre achei isso tb. a anatomia da mulher leva à submissao sexual sim...
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